Estamos
vivendo tempos de pandemia. Um vírus, elemento invisível, intimida a humanidade
e a obriga ao recolhimento. Este é oportunidade para reflexão, meditação e
contemplação de Deus. No cristianismo, conhecemos a importância do recolhimento
e da solidão. Tratar-se de um necessário movimento de interioridade, de
voltar-se para dentro de si mesmo, de autoconhecimento.
Certamente, muita gente se sente
inquieta e incomodada. Estamos acostumados a viver voltados para fora, na extroversão.
As sociedades ocidentais são barulhentas, agitadas, apressadas, tensas, dadas a
movimentos intensos. De repente, foram obrigadas ao recolhimento. Apesar da
Internet, da televisão e das redes sociais que ocupam a mente e “acalma” a
tensão, os corpos humanos se encontram inquietos porque se sentem presos nas
casas. Em muitos casos, presos à solidão das ruas, viadutos e praças.
Não se tem notícia de pessoas que
estão se dedicando à leitura, meditação e reflexão sobre a própria existência e
a situação do mundo atual. A grande maioria está ocupada com o entretenimento
das telas dos celulares, TVs e computadores. Outras estão ocupadas com o muito
dormir, porque se sentem mais aliviadas e seguras no mundo do sono. Dormir é
uma das formas de não enxergar o que está acontecendo. Mas muita gente acordada
também está em um sono profundo, porque ainda falta o despertar para a
realidade.
Recolher-se é atitude corajosa. Na
solidão contemplativa, a pessoa está diante de si mesma, tendo que encarar a
sua verdade. Cada pessoa traz consigo a sua verdade, aquilo que verdadeiramente
é. A verdade daquilo que se é significa a personalidade que, muitas vezes,
escondemos dos outros: o nosso verdadeiro eu, nossa verdadeira identidade. O
silêncio da solidão contemplativa faz aparecer esta identidade pessoal. Ter a
coragem de permanecer diante da própria verdade, reconciliando-se com ela,
aceitando-a, é uma experiência libertadora. É um encontro iluminador, um
despertar para a vida.
O confinamento é uma excelente
oportunidade para um encontro consigo mesmo. Este encontro pode mudar o rumo da
vida, porque gera novas posturas. Para os cristãos, seguidores de Jesus, o
confinamento também significa experiência de Deus. Este Deus fala a partir de
dentro, pois reside no mais íntimo do coração humano. Quando a pessoa mergulha
em si mesma, no mais profundo de si poderá encontrar Deus. Ele é paciente, sabe
esperar. É o Deus do encontro, que permanece, é o Revelador da nossa verdadeira
identidade e felicidade. Feliz de quem o encontra e com ele permanece.
Os cristãos católicos estão
celebrando a Quaresma, tempo de recolhimento para uma escuta mais apurada da
Palavra de Deus. Em poucos dias, celebrarão o mistério da paixão, morte e
ressurreição de Jesus, o Cristo de Deus. Exceto os ministros ordenados e poucos
auxiliares, todos celebrarão este mistério no recolhimento. Será uma
experiência nova para muitos. Para outros, não será novidade porque nunca se
ocuparam com a celebração deste mistério.
Será que a celebração do mistério
pascal de Cristo, centro da fé cristã, não vai provocar nenhuma transformação
no interior daqueles que confessam a fé em Jesus, e que estão recolhidos? Será
que esta feliz oportunidade de confinamento para um maior aprofundamento do ser
cristão no mundo passará sem ser devidamente aproveitada? Até quando muitas
pessoas adiarão o necessário e libertador encontro consigo mesmas? Este
confinamento em decorrência da pandemia não provocará nenhum progresso
espiritual? Após esse período de paixão e morte não se viverá a ressurreição?
Até quando a humanidade insistirá em caminhar para o abismo, com olhos e
ouvidos fechados, dominada pelo egoísmo gerador da cultura da morte?
É tempo de conversão. Os apelos
estão aí. Eles também estão em nós. Despertemos enquanto há tempo.
Tiago
de França
Um comentário:
Este tempo de quaresma devemos aproveitar este momento de recolhimento para meditar a palavra de DEUS é como você disse lê mais refleti para crescer no conhecimento
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