terça-feira, 16 de junho de 2020

O resultado da flexibilização


A retomada das atividades comerciais e a movimentação das pessoas no espaço público não resolverão o problema da economia a curto prazo. A economia brasileira somente vai se recuperar após muito investimento estatal e geração de emprego e renda. Afirmar o contrário é mentir para o povo, e causar mais mortes.
Hoje, 16 de junho, foram registrados 37.242 novos casos nas últimas 24 horas, totalizando 928.798 casos. Muito em breve, o Brasil chegará a 1 MILHÃO de casos confirmados. Nas últimas 24 horas foram registradas 1.338 mortes, totalizando 45.456 mortes. Será que as pessoas já pararam para pensar neste número? Ou será que foram contaminadas pelo vírus da insensibilidade?
Os números PROVAM que a flexibilização foi adotada no momento ERRADO. As pessoas estão se contaminando e morrendo. Vai chegar o momento em que irão procurar atendimento médico e não serão atendidas. Motivo: Falta de vagas nas UTIs. Como é que os governantes ousam defender que a flexibilização está acontecendo porque há UTIs vagas? Esse critério é válido? Por que temos hospitais, as pessoas podem se contaminar? Essa é uma lógica declaradamente genocida.
Quem está morrendo? Os mais pobres. Ou será que os ricos, principalmente os empresários, estão expostos ao vírus, em seus carros, mansões e apartamentos seguros e confortáveis? Claro que não! Estamos assistindo ao genocídio de pessoas pobres no Brasil. E quem discorda, considere os números. E se os números não são suficientes para o necessário convencimento, a chegada do vírus às famílias e parentes próximos dos mais teimosos trará este convencimento.
A pandemia se estenderá por mais tempo e matará mais pessoas, porque a flexibilização segue sendo feita como se estivéssemos no seu fim. O Brasil está longe do fim da pandemia. Quanto mais o vírus se espalha, mais pessoas correm o risco de morrer. O isolamento social, apesar das resistências, deveria ter sido mantido, funcionando, apenas, os serviços essenciais. Com ou sem isolamento social, a economia brasileira continuará estagnada. O atual governo não tem projeto para uma economia inclusiva dos pobres.
Quando a pandemia passar, o discurso será: "Estamos mal por causa do coronavírus!" Já estávamos mal muito antes da chegada do coronavírus. O atual governo está a serviço dos empresários. As falas e posturas do presidente mostram que não está preocupado com a morte de parcela da população brasileira. Tentou até esconder o número de mortos. As tentativas do governo não são em prol da vida, mas dos que querem continuar ganhando muito dinheiro. Esta é a realidade, quer se aceite, quer não.
Numa sociedade capitalista, em primeiro lugar, busca-se a salvação dos mais ricos, e não dos mais pobres. Primeiro o CNPJ, depois o CPF. O Estado deveria trabalhar para socorrer os mais frágeis, pois essa é a razão de sua existência. Mas os donos da economia mandam fazer o oposto: Primeiro é preciso salvar o mercado financeiro. A lógica neoliberal é um tanto curiosa: Os empresários não querem fiscalização pesada nem pagar muitos impostos; mas quando estão prestes a quebrar, exigem o socorro do Estado. Nesta hora são a favor da intervenção estatal.
E o que faz o Estado? Emprega o dinheiro público na salvação do mercado financeiro; perdoa dívidas; oferece inúmeras facilidades; e onera mais ainda os pobres, para que paguem a conta. É isso que está por trás das falas dos ministros da economia e meio ambiente, na reunião do dia 22 de abril: O primeiro reclamou a venda do Banco do Brasil, usando até palavrão; e o segundo, disse que é preciso aproveitar que o brasileiro está com a atenção voltada para a pandemia, para "passar a boiada" no meio ambiente, ou seja, flexibilizar leis, retirar multas e entregar o patrimônio natural aos exploradores.
Enquanto as pessoas morrem, o presidente e seus apoiadores estão enfrentando medidas judiciais. Enfrentam fazendo ameaças, como se estivessem acima da lei. Não aceitam ser questionados. Fazem e desfazem e não querem ser incomodados. É um estado de coisa que nunca se viu na história do Brasil. Mas não se chegou ao fundo do poço. Parece ser necessário que se chegue, para que os iludidos acordem. Alguns já foram tomados pelo sono eterno (não sobreviveram ao coronavírus), outros estão fazendo muito barulho.
E assim, o Brasil segue passando vergonha perante o mundo. O que é ruim vai se normalizando, e as pessoas tendem a se acostumar. Quando o que é ruim vira a regra do convívio social, as mortes dos fracos já não incomodam mais. No começo da pandemia, o presidente estimou que morreriam uns 70 mil brasileiros de Covid-19. Já são mais de 45 mil. Por que o presidente fez essa previsão? Porque desde o início decidiu que nada faria para impedir isso. Antes, tem colaborado para a situação piorar. Não é à toa que não há um ministro da Saúde, mas um general do exército ocupando o posto. Qualquer pessoa minimamente inteligente compreende o significado disso.
A esperança, que permanece viva, é que o brasileiro aprenda a lição, mesmo tendo que assistir à morte de milhões de contemporâneos. No futuro, os que não sofrerem da memória, sentirão muita vergonha desse período triste, ameaçador, sombrio, deplorável e horroroso da história brasileira.
Por isso, se puder, PERMANEÇA EM CASA.
Tiago de França

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