"Portanto, ide e fazei
discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu
estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt
28,19-20).
Neste domingo, a Igreja católica celebra a solenidade da
Ascensão do Senhor, e o texto evangélico desta bela liturgia (cf. Mt 28,16-20)
constitui a conclusão do evangelho de Mateus. Antes de subir para junto do Pai,
Jesus pede para se encontrar com seus discípulos na Galileia, lugar do início da sua
missão.
Quando o viram, alguns ainda duvidaram. O evangelista faz
questão de chamar a atenção para esse detalhe. E após dizer que toda autoridade
lhe foi dada no céu e sobre a terra, afirmando, desse modo, a sua supremacia
universal, diz aos seus discípulos: "Ide e fazei discípulos meus todos os
povos". Este "ide" aparece como ordem, no imperativo. Ele viu
que seus discípulos estavam aptos para partir para a missão, assistidos pelo
Espírito Santo.
Fazer discípulos é a missão que cabe aos que foram enviados
por Jesus. O discipulado é estado permanente de aprendizagem. Na vida cristã,
ninguém deixa de ser discípulo. Diuturnamente, os que são chamados devem se
colocar na escuta permanente de Jesus. O discípulo deve fazer a experiência de
Maria, irmã de Marta, que escolheu a melhor parte: colocar-se aos pés de Jesus
para escutá-lo (cf. Lc 10,41-42).
Quem escuta aprende e obedece. Na Bíblia, escutar é
sinônimo de obedecer. Quem escuta Jesus aprende a fazer a vontade do Pai. Assim
como Jesus, o discípulo atento procura, em tudo, obedecer a Deus. Nesta
obediência se produz a fé generosa, esclarecida e forte, única capaz de manter
o discípulo no caminho de Jesus.
Fazer discípulos é levar as pessoas ao conhecimento de
Jesus, que acontece no encontro com ele. Por isso, os que são enviados com a
missão de fazer discípulos devem ser os primeiros a fazer a experiência do
encontro com Jesus; pois, como o missionário pode levar outras pessoas ao
encontrar o Mestre se antes não fizer esta bela e feliz experiência? Ninguém dá
aos outros aquilo que não tem.
O evangelista fala do batismo em nome da Trindade. Isso
significa que pelo batismo a pessoa se torna discípula de Cristo. Esta dimensão
do batismo jamais pode ser esquecida. Nas águas do batismo a pessoa adere a
Cristo e passa a participar da vida divina e, desse modo, mergulha no
insondável mistério de Deus, que redime e salva, libertando-a do pecado e do
poder da morte. Assumir o batismo no cotidiano da vida é necessário, não
bastando apenas ter passado pelo ritual. Este é meio e não fim.
Em seu mandato missionário, Jesus diz aos discípulos que é
necessário ensinar a observar tudo o que ele ordenou. Isso significa que o missionário
não vai ensinar doutrina humana, meramente criada pela inteligência dos homens,
com fins humanos. Mas deve ensinar tudo o que Jesus ordenou, ou seja, o amor a
Deus e ao próximo. O amor é a síntese de toda a lei e os profetas. Quem ama
observa o que Jesus ordenou, porque esta foi a sua ordem: Fazer como fez o
samaritano, que socorreu o caído e, assim, demonstrou o significado do
mandamento de Deus (cf. Lc 10,25-37).
Por fim, Jesus assegura a sua presença: "Eis que eu
estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo". Até a sua vinda
definitiva (parusia), Jesus permanecerá conosco. A parusia vai inaugurar um
novo tempo, uma nova era. Ao mesmo tempo em que volta para o Pai,
misteriosamente Jesus permanece no mundo, acompanhando a vida de seus discípulos
missionários. Ele é o Emmanuel, ou seja, o Deus que permanece próximo.
Na celebração da Ascensão do Senhor temos esta certeza:
Somos enviados para fazer discípulos, mas não estamos desamparados nesta
tarefa. Jesus permanece fiel e presente, discreta e amorosamente. Pela fé,
cremos na sua ação. O Espírito Santo nos concede a graça de fazermos a
experiência do discipulado, apesar das nossas fraquezas, das circunstâncias
difíceis do tempo presente, tempo marcado pelos sinais de morte.
Assim confortados, não podemos ficar parados, olhando para
o céu. É preciso confiar na presença de Jesus e caminhar. É preciso caminhar na
direção dos outros, especialmente aqueles que precisam se tornar discípulos de
Cristo. Todo aquele que se torna discípulo de Cristo encontrou a razão de sua
vida; encontra-se seguro e se torna capaz de enfrentar as duras provas da vida,
por mais violentas que sejam.
Nossos tempos exigem coragem, ousadia, vitalidade, alegria,
serenidade, discernimento, íntima comunhão com Deus, muito amor e muita fé.
Estas são, entre outras, as riquezas que a graça faz brotar no coração dos
discípulos de Cristo, para que, com palavras e com a vida, deem testemunho do
Cristo ressuscitado e, assim, dissipem as trevas deste mundo. Que Jesus nos
mantenha em seu caminho, e nos dê firmeza e fidelidade. Amém.
Tiago
de França
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