sábado, 23 de maio de 2020

Ide e fazei discípulos


"Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,19-20).
Neste domingo, a Igreja católica celebra a solenidade da Ascensão do Senhor, e o texto evangélico desta bela liturgia (cf. Mt 28,16-20) constitui a conclusão do evangelho de Mateus. Antes de subir para junto do Pai, Jesus pede para se encontrar com seus discípulos na Galileia, lugar do início da sua missão.
Quando o viram, alguns ainda duvidaram. O evangelista faz questão de chamar a atenção para esse detalhe. E após dizer que toda autoridade lhe foi dada no céu e sobre a terra, afirmando, desse modo, a sua supremacia universal, diz aos seus discípulos: "Ide e fazei discípulos meus todos os povos". Este "ide" aparece como ordem, no imperativo. Ele viu que seus discípulos estavam aptos para partir para a missão, assistidos pelo Espírito Santo.
Fazer discípulos é a missão que cabe aos que foram enviados por Jesus. O discipulado é estado permanente de aprendizagem. Na vida cristã, ninguém deixa de ser discípulo. Diuturnamente, os que são chamados devem se colocar na escuta permanente de Jesus. O discípulo deve fazer a experiência de Maria, irmã de Marta, que escolheu a melhor parte: colocar-se aos pés de Jesus para escutá-lo (cf. Lc 10,41-42).
Quem escuta aprende e obedece. Na Bíblia, escutar é sinônimo de obedecer. Quem escuta Jesus aprende a fazer a vontade do Pai. Assim como Jesus, o discípulo atento procura, em tudo, obedecer a Deus. Nesta obediência se produz a fé generosa, esclarecida e forte, única capaz de manter o discípulo no caminho de Jesus.
Fazer discípulos é levar as pessoas ao conhecimento de Jesus, que acontece no encontro com ele. Por isso, os que são enviados com a missão de fazer discípulos devem ser os primeiros a fazer a experiência do encontro com Jesus; pois, como o missionário pode levar outras pessoas ao encontrar o Mestre se antes não fizer esta bela e feliz experiência? Ninguém dá aos outros aquilo que não tem.
O evangelista fala do batismo em nome da Trindade. Isso significa que pelo batismo a pessoa se torna discípula de Cristo. Esta dimensão do batismo jamais pode ser esquecida. Nas águas do batismo a pessoa adere a Cristo e passa a participar da vida divina e, desse modo, mergulha no insondável mistério de Deus, que redime e salva, libertando-a do pecado e do poder da morte. Assumir o batismo no cotidiano da vida é necessário, não bastando apenas ter passado pelo ritual. Este é meio e não fim.
Em seu mandato missionário, Jesus diz aos discípulos que é necessário ensinar a observar tudo o que ele ordenou. Isso significa que o missionário não vai ensinar doutrina humana, meramente criada pela inteligência dos homens, com fins humanos. Mas deve ensinar tudo o que Jesus ordenou, ou seja, o amor a Deus e ao próximo. O amor é a síntese de toda a lei e os profetas. Quem ama observa o que Jesus ordenou, porque esta foi a sua ordem: Fazer como fez o samaritano, que socorreu o caído e, assim, demonstrou o significado do mandamento de Deus (cf. Lc 10,25-37).
Por fim, Jesus assegura a sua presença: "Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo". Até a sua vinda definitiva (parusia), Jesus permanecerá conosco. A parusia vai inaugurar um novo tempo, uma nova era. Ao mesmo tempo em que volta para o Pai, misteriosamente Jesus permanece no mundo, acompanhando a vida de seus discípulos missionários. Ele é o Emmanuel, ou seja, o Deus que permanece próximo.
Na celebração da Ascensão do Senhor temos esta certeza: Somos enviados para fazer discípulos, mas não estamos desamparados nesta tarefa. Jesus permanece fiel e presente, discreta e amorosamente. Pela fé, cremos na sua ação. O Espírito Santo nos concede a graça de fazermos a experiência do discipulado, apesar das nossas fraquezas, das circunstâncias difíceis do tempo presente, tempo marcado pelos sinais de morte.
Assim confortados, não podemos ficar parados, olhando para o céu. É preciso confiar na presença de Jesus e caminhar. É preciso caminhar na direção dos outros, especialmente aqueles que precisam se tornar discípulos de Cristo. Todo aquele que se torna discípulo de Cristo encontrou a razão de sua vida; encontra-se seguro e se torna capaz de enfrentar as duras provas da vida, por mais violentas que sejam.
Nossos tempos exigem coragem, ousadia, vitalidade, alegria, serenidade, discernimento, íntima comunhão com Deus, muito amor e muita fé. Estas são, entre outras, as riquezas que a graça faz brotar no coração dos discípulos de Cristo, para que, com palavras e com a vida, deem testemunho do Cristo ressuscitado e, assim, dissipem as trevas deste mundo. Que Jesus nos mantenha em seu caminho, e nos dê firmeza e fidelidade. Amém.

Tiago de França

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