“Eu sou o Caminho, a Verdade e
a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vós me conhecêsseis, conheceríeis
também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes” (Jo
14,6-7).
Estas palavras de Jesus são muito
conhecidas no meio cristão, mas, certamente, não é grande o número daqueles que
param para pensar sobre o seu significado. É preciso meditar as palavras de
Jesus, e não apenas escutá-las e, posteriormente, esquecê-las. A meditação leva
a palavra ao coração, pois neste é capaz de moldar o nosso agir. Jesus pediu,
no mesmo evangelho de João, para guardarmos a sua palavra, e isto significa que
precisamos imprimi-la no coração e na mente, para que nossas ações possam corresponder
à vontade do Pai que o enviou.
Ao proferir as palavras que
introduzem esta nossa meditação, Jesus se encontra no cenáculo, durante a
última ceia com seus discípulos. O clima é de medo, angústia e tensão. Ele tinha
consciência daquilo que iria acontecer nas horas seguintes, e estava preparando
seus discípulos para darem conta de acompanhar a sua paixão e morte na cruz. Jesus
esclarece, com palavras e gestos, o significado da sua paixão e morte na cruz. Ele
queria que seus discípulos compreendessem bem que se tratava de um gesto
supremo de amor, capaz de salvar toda a humanidade.
Mesmo assim, Tomé diz que eles não
sabiam para onde Jesus iria, nem conheciam o caminho. Jesus responde à questão
de Tomé com uma frase simples, mas de profundo significado para quem deseja
segui-lo. Considerando o clima da última ceia e nossa situação atual, meditemos
sobre a resposta de Jesus, dirigida também a nós nestes tempos sombrios de
pandemia, de intolerância, de crise política e econômica, de crise
civilizacional.
“Eu
sou o caminho...” Jesus é o caminho que conduz a Deus. Não é qualquer
caminho, mas o único que conduz as pessoas à verdade de si mesmas. Assim, Jesus
é mais que uma pessoa, é um itinerário de vida, uma estrada certa que conduz a
um destino certo. Toda pessoa que adere a este caminho, encontra a verdadeira
segurança da sua vida. Jamais se perderá se permanecer firme no caminho.
Portanto, o seguidor de Jesus não
precisa temer a nada nem a ninguém, se permanecer em Jesus. Ele é a rocha, a
luz, a força, a bússola... A nossa vida está segura em suas mãos. Se estamos com
Jesus, não precisamos nos preocupar com o amanhã, com o que nos acontecerá, com
o como viveremos. Unidos a ele, como o ramo preso ao tronco da árvore, nada nos
pode separar nem nos destruir. Ele é o caminho e, simultaneamente, é nosso
companheiro e guia. Com ele venceremos tudo: o medo, a angústia, as ameaças, a
pandemia, as crises, as incertezas, todas as formas de sofrimento, a morte...
Ele é o caminho verdadeiro que conduz ao Pai das misericórdias.
“Eu
sou a verdade...” Jesus é Deus e homem verdadeiro. A sua vida entre nós nos
revelou aquilo que de mais belo e sublime há no ser humano, porque ele foi, de
fato, humanamente perfeito. “Humano assim
como Jesus só Deus mesmo”, afirmou, magistralmente, o teólogo Leonardo
Boff. Realmente, em Jesus encontramos a verdade do gênero humano, portanto, a
verdade de cada pessoa. Em outras palavras, Jesus é a revelação de Deus em nós.
Em nós, Deus nos liberta da mentira
e da confusão, de nossas confusas inquietações e anseios. Ao afirmar ser a
verdade, Jesus está dizendo que não pertencemos às trevas da ignorância e da
mentira, mas somos filhos da luz do dia e da transparência. Em Deus não há
confusão. Fomos criados à imagem e semelhança da Verdade por excelência. Por isso,
somos essencialmente desejosos da verdade que liberta e nos tranquiliza. Em meio
à confusão que gera ilusão e desorientação, precisamos fixar os olhos em Jesus,
verdade eterna que com o Pai e o Espírito formam um só Deus, razão do nosso
viver e revelação do nosso ser.
“Eu
sou a vida.” Certa vez escutava a oração de uma senhora, que longe da
sistematização teológica dos grandes teólogos, fazia a sua prece com muita
confiança: “Jesus, o senhor é a minha vida, escute a minha oração!” Como é belo
um cristão ter a certeza de que Jesus é o centro da sua vida, a razão da sua
existência! Em nossas comunidades cristãs, em meio ao desespero da pandemia do
coronavírus, precisamos anunciar ao mundo que Jesus é a vida plena ofertada
pelo Pai ao mundo.
A vida de Jesus entre nós foi a
manifestação plena da vida divina, aberta e disponível para todos, sem exceção
de quem quer que seja. Ele entregou, com toda a liberdade, a sua vida para que
tenhamos vida plena. Aqui reside a nossa salvação. Se Jesus é, de fato, a nossa
vida, então não precisamos ter medo de nada, inclusive da morte. A vida divina
não conhece início nem fim, limite nem impedimento, pois é eterna e disponível.
É a Fonte que jorra, e toda pessoa que beber desta Fonte nunca mais terá sede,
ganhará a vida eterna, e se transformará também numa fonte que jorra para a
vida eterna.
Estas palavras de Jesus preenchem de
sentido a nossa vida, muitas vezes marcada pela mesquinhez e mediocridade. Às
vezes, ocupamo-nos com coisas tão irrelevantes, que sugam as nossas boas
energias. Outras vezes, caímos na tentação de sermos absorvidos pela ansiedade,
porque nos preocupamos excessivamente com o amanhã, este amanhã cada vez mais
sombrio e sem perspectiva. Mas estas preocupações nada resolvem. Pelo contrário,
podem nos revelar a nossa falta de confiança em Deus.
Temos que nos perguntar, seriamente,
sobre esta nossa confiança em Deus, uma vez que nos afirmamos cristãos. É inconcebível
que um cristão seja dominado pelo medo e esteja, permanentemente, atormentado
pela ansiedade e outras doenças decorrentes de perturbações mentais. Por que
acreditamos tão facilmente em mentiras que aprisionam a mente, se Jesus é a
verdade na qual cremos? Por que temos receio de seguir adiante, alegando
desorientação, se Jesus é o caminho certo e seguro? Por que temos tanto medo da
vida e seus desafios, e das pessoas, se Jesus é a nossa vida?...
Fixemos os olhos em Jesus, caminho,
verdade e vida. Abramos o nosso coração para que ele, com o Pai e o Espírito,
habite em nós. Jesus é nossa paz. Se guardarmos a sua palavra, o Espírito agirá
e daremos frutos abundantes. Ele pede para não ficarmos perturbados, mas que
tenhamos fé no Pai e nele também (cf. Jo 14,1).
Neste mundo e no mundo que há de vir, se temos esta fé
exigida por ele, então já vivemos em comunhão com o Pai, pelo Filho e no
Espírito Santo. E como dirá a grande Santa Teresa de Ávila: “Nada te perturbe, nada te amedronte. Tudo
passa. A paciência tudo alcança. A quem tem Deus nada falta. Só Deus basta!” Santa
Teresa era uma mulher de profunda fé em Deus. Estas suas palavras revelam que
encontrou, já neste mundo, o Tudo de sua vida, que é também o Tudo de nossa
vida: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Que Deus nos conceda a fé necessária
para vivermos serenamente em meio às ondas agitadas do mar da vida.
Tiago de França
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