sábado, 9 de maio de 2020

Jesus de Nazaré: Caminho, verdade e vida


“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes” (Jo 14,6-7).
            Estas palavras de Jesus são muito conhecidas no meio cristão, mas, certamente, não é grande o número daqueles que param para pensar sobre o seu significado. É preciso meditar as palavras de Jesus, e não apenas escutá-las e, posteriormente, esquecê-las. A meditação leva a palavra ao coração, pois neste é capaz de moldar o nosso agir. Jesus pediu, no mesmo evangelho de João, para guardarmos a sua palavra, e isto significa que precisamos imprimi-la no coração e na mente, para que nossas ações possam corresponder à vontade do Pai que o enviou.
            Ao proferir as palavras que introduzem esta nossa meditação, Jesus se encontra no cenáculo, durante a última ceia com seus discípulos. O clima é de medo, angústia e tensão. Ele tinha consciência daquilo que iria acontecer nas horas seguintes, e estava preparando seus discípulos para darem conta de acompanhar a sua paixão e morte na cruz. Jesus esclarece, com palavras e gestos, o significado da sua paixão e morte na cruz. Ele queria que seus discípulos compreendessem bem que se tratava de um gesto supremo de amor, capaz de salvar toda a humanidade.
            Mesmo assim, Tomé diz que eles não sabiam para onde Jesus iria, nem conheciam o caminho. Jesus responde à questão de Tomé com uma frase simples, mas de profundo significado para quem deseja segui-lo. Considerando o clima da última ceia e nossa situação atual, meditemos sobre a resposta de Jesus, dirigida também a nós nestes tempos sombrios de pandemia, de intolerância, de crise política e econômica, de crise civilizacional.
            “Eu sou o caminho...” Jesus é o caminho que conduz a Deus. Não é qualquer caminho, mas o único que conduz as pessoas à verdade de si mesmas. Assim, Jesus é mais que uma pessoa, é um itinerário de vida, uma estrada certa que conduz a um destino certo. Toda pessoa que adere a este caminho, encontra a verdadeira segurança da sua vida. Jamais se perderá se permanecer firme no caminho.
            Portanto, o seguidor de Jesus não precisa temer a nada nem a ninguém, se permanecer em Jesus. Ele é a rocha, a luz, a força, a bússola... A nossa vida está segura em suas mãos. Se estamos com Jesus, não precisamos nos preocupar com o amanhã, com o que nos acontecerá, com o como viveremos. Unidos a ele, como o ramo preso ao tronco da árvore, nada nos pode separar nem nos destruir. Ele é o caminho e, simultaneamente, é nosso companheiro e guia. Com ele venceremos tudo: o medo, a angústia, as ameaças, a pandemia, as crises, as incertezas, todas as formas de sofrimento, a morte... Ele é o caminho verdadeiro que conduz ao Pai das misericórdias.
            “Eu sou a verdade...” Jesus é Deus e homem verdadeiro. A sua vida entre nós nos revelou aquilo que de mais belo e sublime há no ser humano, porque ele foi, de fato, humanamente perfeito. “Humano assim como Jesus só Deus mesmo”, afirmou, magistralmente, o teólogo Leonardo Boff. Realmente, em Jesus encontramos a verdade do gênero humano, portanto, a verdade de cada pessoa. Em outras palavras, Jesus é a revelação de Deus em nós.          
            Em nós, Deus nos liberta da mentira e da confusão, de nossas confusas inquietações e anseios. Ao afirmar ser a verdade, Jesus está dizendo que não pertencemos às trevas da ignorância e da mentira, mas somos filhos da luz do dia e da transparência. Em Deus não há confusão. Fomos criados à imagem e semelhança da Verdade por excelência. Por isso, somos essencialmente desejosos da verdade que liberta e nos tranquiliza. Em meio à confusão que gera ilusão e desorientação, precisamos fixar os olhos em Jesus, verdade eterna que com o Pai e o Espírito formam um só Deus, razão do nosso viver e revelação do nosso ser.
            “Eu sou a vida.” Certa vez escutava a oração de uma senhora, que longe da sistematização teológica dos grandes teólogos, fazia a sua prece com muita confiança: “Jesus, o senhor é a minha vida, escute a minha oração!” Como é belo um cristão ter a certeza de que Jesus é o centro da sua vida, a razão da sua existência! Em nossas comunidades cristãs, em meio ao desespero da pandemia do coronavírus, precisamos anunciar ao mundo que Jesus é a vida plena ofertada pelo Pai ao mundo.
            A vida de Jesus entre nós foi a manifestação plena da vida divina, aberta e disponível para todos, sem exceção de quem quer que seja. Ele entregou, com toda a liberdade, a sua vida para que tenhamos vida plena. Aqui reside a nossa salvação. Se Jesus é, de fato, a nossa vida, então não precisamos ter medo de nada, inclusive da morte. A vida divina não conhece início nem fim, limite nem impedimento, pois é eterna e disponível. É a Fonte que jorra, e toda pessoa que beber desta Fonte nunca mais terá sede, ganhará a vida eterna, e se transformará também numa fonte que jorra para a vida eterna.
            Estas palavras de Jesus preenchem de sentido a nossa vida, muitas vezes marcada pela mesquinhez e mediocridade. Às vezes, ocupamo-nos com coisas tão irrelevantes, que sugam as nossas boas energias. Outras vezes, caímos na tentação de sermos absorvidos pela ansiedade, porque nos preocupamos excessivamente com o amanhã, este amanhã cada vez mais sombrio e sem perspectiva. Mas estas preocupações nada resolvem. Pelo contrário, podem nos revelar a nossa falta de confiança em Deus.
            Temos que nos perguntar, seriamente, sobre esta nossa confiança em Deus, uma vez que nos afirmamos cristãos. É inconcebível que um cristão seja dominado pelo medo e esteja, permanentemente, atormentado pela ansiedade e outras doenças decorrentes de perturbações mentais. Por que acreditamos tão facilmente em mentiras que aprisionam a mente, se Jesus é a verdade na qual cremos? Por que temos receio de seguir adiante, alegando desorientação, se Jesus é o caminho certo e seguro? Por que temos tanto medo da vida e seus desafios, e das pessoas, se Jesus é a nossa vida?...
            Fixemos os olhos em Jesus, caminho, verdade e vida. Abramos o nosso coração para que ele, com o Pai e o Espírito, habite em nós. Jesus é nossa paz. Se guardarmos a sua palavra, o Espírito agirá e daremos frutos abundantes. Ele pede para não ficarmos perturbados, mas que tenhamos fé no Pai e nele também (cf. Jo 14,1).
Neste mundo e no mundo que há de vir, se temos esta fé exigida por ele, então já vivemos em comunhão com o Pai, pelo Filho e no Espírito Santo. E como dirá a grande Santa Teresa de Ávila: “Nada te perturbe, nada te amedronte. Tudo passa. A paciência tudo alcança. A quem tem Deus nada falta. Só Deus basta!” Santa Teresa era uma mulher de profunda fé em Deus. Estas suas palavras revelam que encontrou, já neste mundo, o Tudo de sua vida, que é também o Tudo de nossa vida: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Que Deus nos conceda a fé necessária para vivermos serenamente em meio às ondas agitadas do mar da vida.

Tiago de França

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