Neste ano, assim como nos últimos anos, não temos muito o
que comemorar: Estamos com 12,9 milhões de pessoas desempregadas. A pandemia do
coronavírus piorou a situação. Já antes da pandemia, o governo federal não
demonstrava interesse na questão do emprego. Este nunca integrou a pauta do
atual governo.
O governo do presidente Temer promoveu a Reforma
Trabalhista, com a promessa de que a situação mudaria. Temer dizia que milhões
de empregos seriam criados com tal Reforma. A propaganda era enganosa. Os
números mostram que a situação se agravou, e tende a piorar porque não há
políticas públicas de geração de emprego e renda.
O atual governo concentra a atenção no empregador,
favorecendo-o. Não há medidas que beneficiem o trabalhador. A base aliada do
governo no Congresso trabalha para tirar o que restou do conjunto ameaçado dos
direitos trabalhistas.
Para o presidente Bolsonaro, os trabalhadores tem muitos
direitos, e isso impede a geração de empregos. A ideia é criar postos de
trabalho com pouca segurança para o trabalhador, transformando-os, desse modo,
em mão de obra barata.
Eis as palavras do presidente, por ocasião deste Dia do
Trabalhador: "Gostaria que todos voltassem a trabalhar, mas quem decide
isso não sou eu, são governadores e prefeitos. Então, um bom dia a todos. O Brasil
é um País maravilhoso, eu tenho certeza, com Deus acima de tudo, que brevemente
voltaremos à normalidade". O que dizer destas palavras?
Quando o presidente diz que "gostaria que todos
voltassem a trabalhar", termina por induzir as pessoas a pensar que há
trabalho disponível para todos. E não há. Seu governo não demonstra,
efetivamente, interesse em mudar a situação. O discurso é vazio, pois nada
propõe.
Ao afirmar que "quem decide isso não sou eu, são
governadores e prefeitos", o presidente joga a culpa para estes, como se
governadores e prefeitos estivessem decretando o isolamento social sem nenhuma
necessidade.
Todos tem notícia da gravidade da pandemia do coronavírus.
Nenhum governador e/ou prefeito assina decreta com o objetivo de paralisar seu
estado e/ou município sem que haja um motivo sério. Ai do povo brasileiro se
governadores e prefeitos não tivessem decretado o isolamento social! Nossa
situação estaria bem pior.
A expressão "Então, um bom dia a todos"
corresponde ao "Tô nem aí" para a questão do desemprego. Aos mais de
12,9 milhões de brasileiros desempregados, o que o presidente tem a dizer?
Resposta: "Um bom dia a todos". O presidente continua o mesmo, porque
foi eleito sem apresentar um plano de governo. Seus eleitores acreditaram que
este plano apareceria depois da posse. Enganaram-se.
Como na campanha eleitoral, continua repetindo o seu bordão
"Deus acima de tudo", para aparentar que é um cristão que espera em
Deus, como se Deus resolvesse tudo e confirmasse o que anda fazendo no Brasil.
Mas não é bem assim. O verdadeiro cristão, que coloca Deus acima de tudo,
trabalha para promover o bem comum, praticando o que manda o Evangelho de
Jesus: O amor a Deus e ao próximo.
Se o presidente fosse realmente cristão, suas palavras e
gestos estariam em plena sintonia com o Evangelho de Jesus. As pessoas estão
começando a perceber que certos discursos religiosos não tem outra finalidade
senão enganar os ingênuos e mal informados. Ser cristão é sinônimo de amor ao
próximo, que se expressa com o cuidado que se deve manifestar na relação com os
outros.
Neste dia, os brasileiros precisavam ouvir do presidente da
República propostas e encaminhamentos para solucionar o problema do desemprego;
palavras de conforto e esperança, dado o número assustador de mortos por
coronavírus; enfim, um discurso coerente com a realidade. Mas o que assistimos
é a manifestação pública da encarnação da ignorância e da falta de compromisso
com o País.
Espera-se que esta situação desperte a consciência das
pessoas, para que enxerguem a realidade e aprendam a decidir, politicamente, de
forma mais responsável e consciente. Parafraseando o escritor Euclides da
Cunha, autor de Os sertões, podemos afirmar que o brasileiro é, antes de tudo,
um forte. A esperança ensina que poderemos sair mais fortes desta pandemia e
das crises que nos assolam. É necessário se prevenir e suportar, pois tudo
passa.
Tiago
de França
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